quinta-feira, 26 de maio de 2016

Na catequese, papa Francisco fala da oração como fonte de misericórdia

Ao final da audiência geral, foi recordado o Dia Internacional das Crianças Desaparecidas
“A oração não é uma varinha mágica. A oração ajuda a conservar a fé em Deus e a nos entregar a Ele mesmo quando não compreendemos a sua vontade. Nisto, Jesus, que rezava tanto, é um exemplo para nós”, explicou o papa Francisco, na catequese, desta quarta-feira, 25 de maio, no Vaticano. 
Os fiéis, reunidos na Praça de São Pedro, acompanharam a meditação do papa a respeito do valor da oração como fonte de misericórdia. Inspirado na parábola da viúva, retratada no Evangelho de Lucas (18,1-8), Francisco recordou que, no final, a perseverança da viúva prevaleceu até mesmo sobre a iniquidade de um juiz inescrupuloso.
“A necessidade de rezar sempre, sem jamais esmorecer. Portanto, não se trata de rezar às vezes, quando ‘estou a fim’. Não, Jesus diz que é preciso rezar sempre, sem cessar”, disse o papa. 
Ao final da audiência geral, Francisco recordou o Dia Internacional das Crianças Desaparecidas, celebrado, hoje, 25. Na ocasião, alertou ser um dever de todos proteger as crianças, sobretudo aquelas expostas a um elevado risco de exploração, tráfico e condutas desviantes.
“Faço votos de que as autoridades civis e religiosas possam despertar e sensibilizar as consciências, para evitar a indiferença diante da vulnerabilidade de crianças sós, exploradas e afastadas de suas famílias e de seu contexto social, crianças que não podem crescer serenamente e olhar com esperança para o futuro”, finalizou o papa.
Confira a íntegra da catequese:
Caros irmãos e irmãs, bom dia!
A parábola evangélica que acabamos de ouvir (cfr Lc 18,1-8) contém um ensinamento importante: «A necessidade de rezar sempre, sem jamais se cansar» (v. 1). Portanto, não se trata apenas de rezar algumas vezes, quando sinto vontade. Não, Jesus diz que é preciso «rezar sempre, sem jamais se cansar». E apresenta o exemplo da viúva e do juiz.
O juiz é um personagem poderoso, chamado a emitir sentenças baseadas na Lei de Moisés. Por isso a tradição bíblica recomendava que os juízes fossem pessoas tementes a Deus, dignas de fé, imparciais e incorruptíveis (cfr Ex 18,21). Ao contrário, este juiz «não temia a Deus, nem respeitava homem algum» (v. 2). Era um juiz iníquo, sem escrúpulos, que não observava a Lei mas fazia o que queria, segundo seu interesse. A ele se dirige uma viúva para ter justiça. As viúvas, junto com os órfãos e os estrangeiros, eram as categorias mais frágeis da sociedade. Os direitos assegurados a eles pela Lei podiam ser pisados com facilidade porque, sendo pessoas sozinhas e sem defesa, dificilmente recebiam apoio: uma viúva, ali, sozinha, ninguém a defendia, podiam ignorá-la, não eram justos com ela. Assim também o órfão, assim o estrangeiro, o migrante: naquele tempo era muito forte esta problemática. Diante da indiferença do juiz, a viúva recorre à sua única arma: continuar insistentemente a importuná-lo, apresentando-lhe seu pedido de justiça. E justamente com esta perseverança alcança o objetivo. O juiz, de fato, em um certo ponto a escuta, não porque é movido por misericórdia, nem porque a consciência o impõe; simplesmente admite: «Mas esta viúva já está me importunando. Vou fazer-lhe justiça, para que ela não venha, por fim, a me agredir!» (v. 5). Desta parábola Jesus tira duas conclusões: se a viúva conseguiu dobrar o juiz desonesto com seus pedidos insistentes, quanto mais Deus, que é Pai bom e justo, «não fará justiça aos seus escolhidos, que dia e noite gritam por ele?»; e além disso, não «vai fazê-los esperar», mas agirá «bem depressa» (vv. 7-8).
Por isso, Jesus exorta a rezar “sem jamais se cansar”. Todos experimentamos momentos de cansaço e desânimo, principalmente quando nossa oração parece ineficaz. Mas Jesus nos garante: diferente do juiz desonesto, Deus ouve prontamente seus filhos, mesmo que isso não signifique que o faça nos tempos e nas maneiras que nós queremos. A oração não é uma varinha mágica! Ela ajuda a conservar a fé em Deus e a confiar n’Ele mesmo quando não compreendemos a Sua vontade. Neste sentido, o próprio Jesus – que rezava muito! – é um exemplo para nós.
A Carta aos Hebreus recorda que «Ele, nos dias de sua vida terrestre, dirigiu preces e súplicas, com forte clamor e lágrimas, àquele que tinha poder de salvá-lo da morte. E foi atendido, por causa de sua piedosa submissão» (5,7). À primeira vista, esta afirmação parece improvável, porque Jesus morreu na cruz. A Carta aos Hebreus não erra: Deus verdadeiramente salvou Jesus da morte dando-lhe sobre ela a completa vitória, mas o caminho percorrido para obtê-la passou através da própria morte! A referência à súplica que Deus ouviu diz respeito à oração de Jesus no Getsêmani. Tomado por uma angústia profunda, Jesus reza ao Pai para que o liberte do cálice amargo da paixão, mas a sua oração é permeada pela confiança no Pai e se confia sem reservas à sua vontade: «Porém – diz Jesus – não seja feito como eu quero, mas como tu queres» (Mt 26,39). O objeto da oração passa em segundo plano; o que importa antes de tudo é a relação com o Pai. É isso que a oração faz: transforma o desejo e o modela segundo a vontade de Deus, qualquer que seja, porque quem reza aspira antes de tudo a união com Deus, que é Amor misericordioso.
A parábola termina com uma pergunta: «Mas o Filho do Homem, quando vier, será que vai encontrar fé sobre a terra?» (v. 8). E com esta pergunta todos nos colocamos em vigilância: não devemos desistir da oração mesmo que ela não seja correspondida. É a oração que conserva a fé, sem ela a fé vacila! Peçamos ao Senhor uma fé que se faz oração incessante, perseverante, como aquela da viúva da parábola, uma fé que se nutre do desejo da sua vinda. E na oração experimentamos a compaixão de Deus, que como um Pai vem ao encontro de seus filhos pleno de amor misericordioso.
CNBB com informações e foto da Rádio Vaticano

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